quarta-feira, 29 de julho de 2015

O improvável


Eu estava incomodada há semanas, provavelmente meses. Não fazia ideia de qual era o nome do sentimento que me atrapalhava. Pra ser sincera, ainda não sei. Ou talvez eu saiba. Estava no Twitter quando me deparei com a seguinte frase: "como é difícil não gostar de alguém que a gente ama, né?".

Era isso. Talvez a palavra fosse decepção, poderia também ser tormenta. Mas era algo que agarrava meu coração e esmagava. Esmaga, não no passado. E eu ainda não sei qual é o nome da palavra que me aflige, mas eu já conheço o sentimento por certo tempo. Provavelmente, por tempo demais. 

Pode parecer incoerente, eu realmente não acreditaria nesta colocação, mas é possível não gostar de alguém que a gente ama. Porque amar implica em admiração, em achar incrível. Foi justamente a admiração que me deixou, deu lugar à desconfiança. E já teria sido muito se acontecesse apenas uma vez na vida.  

Nem tudo que nos faz mal podemos deixar pra trás. Não é toda caneta que pode riscar alguém pra gente, porque há laços que são tão profundos que não se pode saber a origem. Eu amo alguéns de que não gosto, de que deixei de gostar.

sexta-feira, 17 de julho de 2015

Sementes de nós


Houve um tempo em que eu não conhecia o meu lugar no mundo. Bem, como todo mundo. Eu não me enxergava como alguém que poderia ser bonito, como alguém pudesse receber amor, além daqueles dado pelas amigas. Eu não acreditei que eu fosse ser como todas as outras pessoas. Na verdade, eu nunca me tornei o todo mundo, mas isso não quer dizer que eu não tenha me encontrado e me aceitado. Aquele primeiro beijo veio mais tarde, o namorado também e a primeira vez, nem se fale. Sabe, olhando de longe isso tudo agora parece lindo, porque eu aprendi que tudo o que acontecia na vida de todo o planeta não necessariamente tinha que acontecer comigo.

E foi assim que comecei a questionar cada um “tem que” que me apareceu. Eu não precisava ir naquela festa que os amigos adoram, se eu não quisesse. O mesmo vale para as bebidas alcoólicas, porque essas regras são as minhas. Decidi que casar de véu e grinalda não era uma regra e um sonho pra mim, porque acreditar em um sonho que te foi designado a sonhar sozinho, não era bem uma realização pra mim. E lá atrás, antes de escolher grande parte dessas coisas e provavelmente influenciada por Angelina Jolie, eu decidi que queria adotar uma criança.

Simplesmente eu não conseguia aceitar colocar mais alguém no planeta, com tanta gente por aqui precisando de um coração pra morar. E tem o parto, toda aquela fase ~linda~ de amamentação e de ser tratada como um ser mágico, de sabedoria plena, quando a coisa de perto não é bem assim. É claro, isso tudo é realmente maravilhoso para muitas mulheres, mas preciso enfatizar: não pra todo mundo, não pra mim. Esta não é uma aventura que todo mundo pode se aventurar.

O problema da decisão de ter filhos — ou de não tê-los - é que é um passo que não se toma sozinho. Não é bem da sua vida que está cuidando apenas, em vários sentidos. E eu realmente acredito que é possível ser feliz com outra pessoa sem dependência, porque eu vivo isso com meu namorado, todos os dias ou boa parte deles. Por quê? Porque eu também decidi lá atrás que um relacionamento não precisava ser baseado em necessidade, embora cada pedacinho de nós quer se colar um no outro pra nunca mais largar.

Daqui a seis meses eu completo 25 anos. O que significa que posso já ter vivido 1/4 de uma vida longa, o que é pouco se olharmos pra todas as partes da fração, mas muito pra eu já me conhecer. O suficiente pra saber que cada dia eu mudo um pouquinho mais e um pouquinho menos. O suficiente pra saber que sonhar com uma gravidez não é pra mim. O suficiente pra saber que é uma possibilidade indesejada. O suficiente pra eu saber que posso um dia acordar com uma vontade louca de procriar. 

P.S.: Por favor, povoem este mundo com bebês lindos. Alguém tem que criar seres mágicos por mim.

quinta-feira, 16 de julho de 2015

Insensível - Parte 2


Mais uma vez o meu dentista. Desta vez, ele havia me perguntado se eu me retraia muito em resolver os problemas e se superava as coisas rápido. Eu parei de remoer problemas, já faz um tempo. Quando escolhi que queria parar de imaginar como a vida acontecia e passei a querer vivenciar as minhas próprias linhas. E foi assim que comecei a atropelar meus sentimentos. 

Quando paro pra pensar no que se passa aqui dentro, até dói. Dói me encontrar pra observar tão de perto. Não sinto que vivo tudo o que sinto suficiente. E mais uma vez estou aqui me repetindo. Mas é tudo que tem se passado por dentro nestes tempos. Conviver com as pessoas me fez perceber que talvez eu não viva o que sinto apropriadamente. E neste caso, apropriadamente não quer dizer o que é comum para todos, mas como deveria ser sentido por mim. 

Não quero me encontrar daqui algum tempo e perceber em mim um trauma ou algo não resolvido. Quero viver agora, agora, agora. Sem perder tempo com aquilo que é ruim. Reflexos de alguém sofreu demais por pouco e quis sentir tudo o que havia pra sentir de uma só vez.  É mesmo melhor sentir dor, a não sentir nada.


quarta-feira, 8 de julho de 2015

Sofrimentos imaginários


Quando somos crianças, a menor das coisas nos faz sofrer. Lembro o quanto eu sentia apenas de imaginar algo que pudesse acontecer. Chegando na adolescência o sofrimento continuou imaginário, mas não pela expectativa, e sim, por coisas ínfimas. É claro que o tempo passou e meu coração ficou calejado e quase nada mais valia o sofrimento. 

Nós nos fechamos para o mundo. Por isso que o sofrimento de quem é adulto vem de tão perto. Esses dias eu estava lendo o emocionante "Eu te darei o sol", da Jandy Nelson, que falava justamento disto. O livro conta história dos irmãos gêmeos Noah e Jude e sobre os fatos que romperam os laços entre essas duas almas que foram unidas ainda na barriga. O problema é que a gente não espera que a facada que fará nosso peito sangrar possa vir de quem está com você.

Eu fiquei pensando nas coisas que me fizeram sofrer nos últimos tempo, depois que entrei na minha oficial fase adulta. Às vezes é bom reencontrar velhos sentimentos pra gente perceber que está vivo. E me dei conta de que é mesmo sempre de perto que vem a o que nos acomete quando nos tornamos adultos. 

É mais difícil, mais complicado, mais dolorido.