segunda-feira, 14 de abril de 2014

Sete dias.

Já se passou uma semana e ainda estou ouvindo suas patinhas caminhando pelo quintal.  Ainda te escuto roubando comida no lixo da cozinha. E até te dou tchau avisando que “mais tarde a gente passeia”. Eu ainda não entendi. E na verdade, não quero entender qual é o tamanho da falta que você me faz.

Eu sempre soube que essa hora iria chegar, mas depois que ela veio, eu definitivamente não estava preparada. Não consigo chegar em casa e não chorar. Não consigo não sofrer. Meu travesseiro já se acostumou a dormir molhado. Porque é na hora que eu entro na nossa rotina que eu me lembro que você não está lá pra completar.

Se pela manhã eu ficasse deitada por dez minutos a mais, eu já escutava seus passinhos caninos e sentia seu focinho empurrando meu braço pra dizer que era hora de levantar. E você ainda ganhava uma cafuné. Se era hora do café da manhã, eu já separava a banda do seu pão. Ai de mim se não passasse margarina. E se me visse a se arrumar no fim da tarde, você já ia buscar sua coleira achando que era sua hora de passear. É uma pena não termos passeado mais. 

No final do dia a gente assistia TV com todo mundo. Se fosse filme da Sessão da Tarde você assistia, se não pedia carinho. Era exigente em relação a seus programas de TV. E todas as visitas? Você amava todos as pessoas, até aqueles que tinha medo de você. 

Nos últimos dias já não fazia mais nada disso. Os últimos dias já não era você e nós nos agarrávamos aos últimos fios da sua vida. A culpa por não estar lá nos seus últimos minutos me consome. Você ter lutado tanto me martiriza. E eu te deixei ir e você decidiu ficar, mas não pode. E essa é a pior parte.

Talvez tivesse acreditado que nós não estávamos preparados. E não estávamos. Talvez você amasse viver mesmo. Nunca vou saber.

Eu não sei pra onde você foi. Eu não sei nem se você ainda existe, além da minha memória e da minha saudade. Meu coração está cercado de incertezas. Apertado pela perda. Cansado de tristeza. 
Eu só sei dizer que você foi a melhor do mundo e por isso é tão difícil aceitar o adeus. 

Sandy Quintans