Diversos títulos me passaram a cabeça ao escrever esse texto. Poderia ter chamado de “autenticidade”, “esponja”, “buraco”, “desabafo” ou até mesmo “sobre minha irmã”. Ainda não sei ao certo qual seria o título adequado, assim como passei a não saber sobre muitas coisas. É como ter começado uma caminhada em que o chão se mantivesse sempre a um nível e de repente aparecesse um buraco. Ou até mesmo vários. Aquele momento de surpresa que nos fez perder o passo tem durado tempo demais.
Minha cabeça já não tem o mesmo equilíbrio. Devo presumir que ela dobrou de tamanho, ou que algumas pedras de preocupação tenham sido implantadas ao meu cérebro pelos ouvidos. Meu pés se arrastam e não posso deixar de pensar nesse aperto na boca do estômago, pra não dizer no coração, a cada vez que o telefone toca.
Passei a pensar nas coisas que nos formam como pessoas e nas palavras que contam as nossas histórias. Pensei que somos, todos, grandes esponjas, que se alimentam de cada gotícula de universo e das gotas que compõem as pessoas que gostamos. Alguns de nós já estão completamente encharcados, enquanto outros estão secos como um lugar que há muito tempo não chove.
Foi assim, por causa de uma dessas esponjas secas que eu me tornei uma esponja pesada demais por causa das pedras de preocupação e encharcada por lágrimas de tristeza. Eu não estava seca, ou precisando ser irrigada. Mas a minha irmã estava, assim, sedenta de um sentido, de gotículas. Cuspiram palavras prontas, repletas de frases feitas que a encharcasse de sentimentos que não se deve deixar encharcar, por não ser água, ou gotículas do universo, ou gotas de pessoas que se ama. Por ser assim, puramente, cuspe.
Sandy Quintans
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