Estava sentada bem no meio do carro, cercada de pessoas que não costumava concordar em nada. Lá fora escuro, com exceção dos faróis dos carros que surgiam na estrada. O sentimento era um velho conhecido meu, o de vazio. O problema era a playlist.
Conforme o carro avançava na estrada, aquelas músicas da minha vida rolavam no pé do ouvido. Me transportando pra cada fase que tinha encarado até aqui, desde a infância. O problema era a playlist que trazia as canções preferidas.
Aquele sentimento de déjà vu que te faz perceber que um dia você se sentiu plenamente feliz em algum momento. E não tem a ver com não estar feliz. É só que depois que a gente cresce não dá pra se sentir tão pleno assim. A playlist errada me transformava em um mar em ressaca.
É reconhecer os sonhos de uma vida que você teve e que largou em algum lugar no caminho. É lembrar que um dia sonhou. E que passou a viver um arroz com feijão de baixas expectativas. Porque em todos os dias há uma nova decepção pra encarar. Essa playlist errada era pra me reencontrar.
O problema é que o encontro me fez sentir vazia. Sem nada. Sem sonhos. Sem o principal de mim e da minha essência. Porque todos os dias é acordar e me chutar pra dentro do baú pra que caiba ali bem apertado, sem deixar a porta aberta, pra que ninguém perceba o que eu posso ser. E que agora não sou nada.
Aquela playlist me derrubou. Mas a verdade é que já estava no chão.